sim, eu confesso, não sou certo, sou destes loucos que olham o sol, ao nascer, ao se por, tipo destes que observam uma flor. que contemplam a chuva de braços abertos, que sentam sozinhos e escutam o vento em silêncio.
como na beira do abismo, como um último suspiro, respiro fundo e salto, em direção ao infinito, não escondo o que sinto, grito ao mundo bem alto enquanto caio perdido completamente enlouquecido...
só quero a paz, nada demais, apenas ser capaz de deixar para trás, qualquer coisa a toa que já não importe, ter apenas coisas boas, para escrever à noite...
e de nenhuma delas guardei mágoa, da maioria guardei beijos, momentos, perfumes que ainda sinto nas madrugadas, tenho também seus sorrisos, olhares, seus rostos guardados na memória, algumas deixaram mais que saudade, de outras tenho um nome, e mais nada...
no frio da noite a lua se mostrava, sob ela duas almas, dois corpos abraçados, duas bocas se beijavam, sob a lua, no frio da noite, o amor esquentava...
eram poucos, os loucos, que sob a noite cantavam, sobre o fogo e as estrelas, que reunidos lembravam as canções proibidas, eram loucos. ou poucos. que ainda se importavam com tradições esquecidas.
ah se a noite soubesse falar, teria tantas histórias para contar. quem sabe até falaria de mim, de tantas coisas que eu fiz, talvez até declamasse meus versos que de alguma forma esqueci, poemas dedicados à noite, palavras que nunca escrevi...
sem noção de espaço ou tempo. em algum lugar ou momento. sempre um mesmo sentimento, algo que acabo perdendo porque não estava escrevendo, meus pensamentos...
essa chuva de outono, marcando o fim do verão, "águas de março" que o poeta já cantou. tempo de mudança, de folhas caindo no chão, tempo de chuva, que a alma e a mente lavou...
em algum lugar de lugar nenhum guardei as imagens que eu não vi, li meus poemas que nunca escrevi, lembrei de memórias que já esqueci, guardei algumas coisas por aqui, outras deixei num canto qualquer ali. e foi assim, outro dia comum, em algum lugar, de lugar nenhum...
e só há um momento, nada mais que um espaço de tempo, segundos quase perfeitos, quando os olhos se encontram, e enxergam lá dentro... no nosso silêncio,
e aqui estou escrevendo, olhando a chuva neste momento! a noite é calma, sem vento, a chuva, quase fica em silêncio, enquanto rabisco meus pensamentos.
♫ sinto falta de uma cachoeira na beira da mata lavando minha alma me levando daqui com um pensamento que eu não sou daqui não pertenço a lugar nenhum ♪ sinto falta das ondas quebrando molhando os meus pés, na beira do mar me mostrando o que é viver em paz me mostrando que a fé me leva onde eu quiser ♫♪ sinto falta da chuva molhando caindo no campo enquanto eu criança corria brincando na minha inocência ficava imaginando como vinha a chuva se era choro dos anjos?
houve um tempo em que a palavra dita era ouvida, que a palavra escrita era lida, houve um tempo que a palavra era apenas transmitida, de pessoa a pessoa, se espalhavam histórias da vida...
não me deixem dizer que a noite era fria ou sombria, não me deixem lembrar alguém que não merecia, não me deixem ser alguém que eu não queria, me deixem apenas, ser palavra e poesia...
a lua chegou antes da noite, flertou com o sol que de longe se escondia no horizonte. atrás de uma nuvem que passava, ficou olhando sem graça, não quis esperar a noite, e sozinho voltou pra casa...
me alegro com o sol da manhã, com um estranho que diz bom dia, me alegro com o cheiro das flores, a colorir e enfeitar a vida. me alegro com um sorriso, o brilho num olhar de criança, me alegro com a vida, com o dia nascendo cheio de esperança...
a procura da palavra esquecida, eis que a encontro sem rima, olvida, palavra que outrora escrita, hoje nem mesmo imprimida, não é mais lida, e quando encontrada, poucos sabem o que significa...
quando anoitecem estrelas, e a lua se atrasa, e ela aparece ainda mais cheia, lembrando histórias, fecho os olhos e a vejo em minhas memórias, chego a sentir o gosto do beijo, em meus lábios agora...